Grandão

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O Marrento

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Finanças Comportamentais e a previdência privada

Para dar início a esta parte do blog trago um artigo que recebi do banco do Brasil que dá uma noção exata de como nos portamos frente a poupança. Bon apetit...

Você está se preparando para a aposentadoria? A maioria das pessoas que responderam uma recente pesquisa , diz que se preocupa com o futuro, mas não está se preparando adequadamente – correspondente a 75,3% dos entrevistados. Apenas 14,16% do total de 166 pessoas com idade entre 30 e 55 anos, da classe média alta, disseram que acreditam que estão se preparando para a aposentadoria. Um de cada dez participantes, disse que simplesmente não pensa no assunto.

Dentre o grupo que diz não estar se preparando, a maioria (81,6%) justifica a falta de preparo adequado como resultado de desorganização e da falta de disciplina. Somente 23 pessoas, 18,4%, disse que não se prepara para a aposentadoria por absoluta falta de condições financeiras.

Analisando estes dados, chama a atenção o fato de que 61% do total de entrevistados disseram que se preocupam com o futuro, têm condições para cuidar da aposentadoria e mesmo assim não o fazem. A pesquisa se concentrou em um extrato superior de renda da população. Na maioria, pessoas com sólida formação educacional e que não constituem reservas para o futuro. Mas porque pessoas educadas não fazem algo que reconhecem como necessário?

:: A formação da poupança
O problema maior, portanto, não é educação – já que quase 90% das pessoas sabem que precisam se preparar para ao futuro, só que não o fazem. Segundo os princípios econômicos neoclássicos, sempre devemos preferir consumir hoje a consumir no futuro. Como o futuro é incerto e podemos não sobreviver até a chegada dele, a lógica é consumir hoje tudo o que for possível.

Só três situações são capazes de nos fazer prorrogar o consumo: a impossibilidade de consumo presente, o medo de não ter o que consumir no futuro (precaução) ou a possibilidade de multiplicar o consumo no futuro (juros e lucros).

Se já estamos com a fome totalmente saciada, iremos preferir um bom bife amanhã, e não hoje. Quando uma recessão se avizinha, o medo de perder o emprego pode nos fazer poupar, mesmo que o retorno de juros ou lucros seja nulo ou até mesmo negativo. Também poupamos por medo de ficar sem ter como sobreviver na velhice.

Quando acreditamos que, no futuro, teremos mais do que hoje, devido aos juros ou lucros, também podemos decidir esperar pelo prêmio maior. Mas apenas humanos fazem isso. É melhor um carro simples agora ou esperar os lucros de uma ação e comprar um carro sofisticado daqui a dois anos? Esta decisão é tomada no córtex pré-frontal, área do cérebro que relaciona passado e futuro.

:: O cérebro humano
Pesquisas em Neuroeconomia sugerem que nosso cérebro pode ser dividido em três grandes estruturas. A primeira é aquela que herdamos dos répteis, que controla nossas funções vitais e instintivas. A segunda é o sistema límbico, presente em todos os mamíferos, que controla as emoções. A terceira, o sistema cortical, em especial o córtex pré-frontal, controla os pensamentos abstratos, analisa o passado e projeta o futuro.

O cérebro de répteis como o jacaré, que ainda existe no interior do nosso cérebro, não consegue compreender o futuro. Só compreende o agora. Deseja para já o menor esforço e o maior prazer. Fazer ginástica, poupar para o futuro e evitar comer todas as guloseimas que estão ao alcance são coisas que o jacaré não entende. Quando um vendedor da loja de roupas oferece uma camisa de algodão egípcio de 160 nós, dizendo que “o senhor trabalha tanto, merece uma camisa como esta”, pode ser que você tenha vontade de comprar, mesmo que não tenha a menor idéia do que seja algodão egípcio, apenas por influência do seu sistema afetivo.

Como o cérebro de jacaré (sistema reptiliano) e o cérebro do tigre (sistema límbico/afetivo) são muito mais simples do que os sistemas corticais, eles também processam muito mais rápido as nossas decisões cotidianas – sendo responsáveis pela maioria delas. Outro exemplo está nas academias de ginástica. É relativamente fácil se matricular em uma academia e decidir malhar no futuro. O córtex sabe que correr na esteira faz bem para a saúde, mas uma vez que você comece a suar, o jacaré procura fazer de tudo para voltar a ficar parado, vendo o tempo passar.

E, diante de um convite dos amigos para um chope? Por mais que o córtex alerte que as finanças estão em frangalhos e que você deveria trocar o happy hour pela academia, é provável que o sistema límbico e o jacaré vençam a decisão, e que você acabe no barzinho aproveitando a sensação de estar entre amigos, comendo e bebendo fartamente. Quando pensamos no futuro, utilizamos apenas o córtex pré-frontal. Mas quando temos que fazer algo “agora”, os sistemas reptiliano e límbico interferem na decisão.

:: Jacaré, o inimigo da previdência
E o que é melhor: aderir a um plano de aposentadoria de contribuição definida ou fazer uma poupança por conta própria? Quem tem algum conhecimento de mercado e é extremamente disciplinado pode até conseguir melhor resultado se poupar por conta própria. Mas terá que travar uma enorme batalha com o “jacaré” interior cada vez que precisar tomar a decisão de transferir um valor da conta corrente para a aplicação financeira.

Sabendo de que o jacaré muitas vezes é mais rápido do que o homem, representado pelo nosso córtex pré-frontal, é melhor aderir a um plano de aposentadoria com depósitos automáticos todo início de mês. Melhor ainda se tiver multas para retiradas antes do prazo definido. Por mais incoerente que possa parecer, a liberdade de retirar o dinheiro quando quiser ou de deixar de contribuir quando não quiser, não é uma boa alternativa.

Para fazer um bom plano de previdência, você precisa entender como seu cérebro funciona e se proteger das próprias decisões. O jacaré pode ser forte, mas ele não entende sobre o futuro. Se o seu córtex compreende que precisa poupar para futuro, tome a sábia decisão de enganar o jacaré. Só assim você não fará parte dos 75% de entrevistados que sabem que precisam poupar, mas correm o risco de estarem desprevenidos quando o futuro finalmente chegar.
(i)Este é o resultado de um pré-teste para balizar uma pesquisa com métodos científicos de amostragem. Caracteriza-se assim como uma pesquisa informal e seus dados não devem ser utilizados para fins científicos.

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Jurandir Sell Macedo, CFPTM (Certified Financial PlannerTM). Profissional de Investimentos Certificado APIMEC. Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina com especialidade em Finanças. Professor Adjunto de Finanças Pessoais e Comportamentais da UFSC. Membro Orientador do Instituto Nacional de Investidores – INI. Jurandir é autor do livro "A árvore do dinheiro - guia para cultivar a sua independência financeira" Editora Campus 2007.
E-mail:
articulista@edufinanceira.org.br

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